A relação da greve com a assistência estudantil na UnB: um debate classista e uma proposta para docentes fura-greve!

Calma! Antes de ler o texto abaixo, clique na imagem acima. É uma música para acompanhar.

Já fez? Agora sim, boa leitura!

Maio de 2012 irá ser marcado como o mês em que se iniciou uma das maiores greves nas universidades federais no Brasil. Já são mais de 40 universidades em que professores(as) paralisaram suas atividades, e as assembleias estudantis tem seguindo o mesmo caminho, ainda que algumas pessoas argumentem sobre a sua legitimidade. Fora isso, há estudantes carentes, que são os que mais sofrem com a paralisação de alguns serviços essenciais e com a extensão do período de aulas, uma vez que parte dos(as) docentes para e outra não. É para esses(as) docentes que esse manifesto traz uma proposta, ao final, coerente com a sua prática de não parar as aulas, prejudicando não somente professores(as) mas também estudantes de baixa renda.

Na UnB, houve uma assembleia no último dia 24 de maio com mais de 600 estudantes, em que a maioria deliberou favoravelmente à greve estudantil, com pauta própria, e apoio ao movimento docente. Não tardou, nas redes sociais, vale dizer, comentários do tipo “o quórum são 1097 estudantes” e “a assembleia não foi legítima”. Pois bem, em um mês, na campanha para DCE de 2011, cartazes, camisetas, adesivos, panfletos, passagens em sala, urnas nos 4 campus (com tempo de votação inferior à 3 minutos), a eleição para DCE atingiu cerca de 20% do total de estudantes da UnB. Uma assembleia estudantil convocada com menos de 24 horas, em que estudantes ouviram argumentos contra e a favor, participação de técnicos e docentes, das 12h00 às 14h00, teve mais de 600 estudantes e o maior argumento contrário que se achou foi “teve 431 assinaturas e portanto não houve quórum”. Legitimidade, como legalidade, está muito mais nas ruas, na ação direta, na aceitação social, do que no peso morto de qualquer lei ou estatuto, construído também sob a conjuntura da luta de classes. Não é preciso estudar o direito achado na rua para saber disso. As assembleias estudantis em todo o país que deflagram greve, com ou sem quórum, mostram na prática o que é legitimidade.

E por quê se afirma que uma grande parcela de estudantes, senão a maioria, é contra a greve? Ora, se nos perguntamos qual é a classe social que está dentro da sala de aula, a resposta é quase que automática. Eu disse quase, pois é difícil achar estudante classe média a favor da greve, e mais difícil ainda achar estudantes carentes contra ela, mas ainda tem muita gente mesquinha ou despolitizada à solta. Segundo dados que me foram fornecidos por Octávio Henrique Bernardo Torres, coordenador Geral do DCE da UnB, esses estudantes carentes representam 6% do total do corpo discente e estão classificados nos grupos 1 ou 2, que são os grupos socioeconomicamente vulneráveis. O grupo 3, que é 94% do total, é aquele que não precisa de nenhum auxílio. Levando em consideração que esses estudantes estão organizados em diversos espaços, dentre eles, centros acadêmicos, é óbvio que os estudantes de baixa renda são oprimidos, no sentido freireano do termo, por aqueles que tem maior renda. É como se a universidade reproduzisse o ambiente organizacional de uma fábrica, só que a exploração seria feita da seguinte forma: o grupo 3, maioria, que analogamente seriam os que detém os meios de produção, exploram os grupos 1 e 2, minoria, que são o proletariado. Qualquer tentativa de angariar direitos para estudantes carentes, como o pleno funcionamento do RU, da biblioteca, de moradia, seria visto pelo outro grupo, senão com desdém, com indiferença, afinal, não necessitam de nada disso. A falta de apoio enquanto categoria estudante à uma greve poderia vir acompanhada de uma série de argumentos do tipo “estudante não tem patrão e não pode fazer greve” ou “greve estudantil é pra quem não quer estudar”, mas sequer pensam que greve estudantil é também para quem não pode estudar em meio à uma situação de insegurança institucional típica desse instrumento. Toda essa verborragia acadêmica do não poder fazer greve em nada colabora com a condição precária à que estão submetidos(as) os grupos 1 e 2 e, para além disso, a precarizada e cada vez mais privatizada universidade pública brasileira.

Independentemente da classe à qual um(a) estudante está vinculado, se o(a) docente para suas atividades, não há a opção de assistir aula. Logo, é o(a) docente quem tem um papel fundamental na greve, como profissional, como educador(a), de entender que a continuação de suas atividades não é só uma briguinha ideológica com professores marxistas, mas algo muito maior que isso. Esse é o momento de fazer a opção de classe: ou continua com suas férias e seu planejamento e de todos os 94% para quem dá aula, ou opta por defender os 6% em que a greve não reflete nas férias, mas no orçamento familiar. Optando por continuar a dar aulas, deveria ao menos, por um compromisso ético – e os imortais adoram tratar direitos nessa perspectiva –, abdicar de qualquer vantagem decorrente do movimento grevista, como aumento salarial ou reestruturação do plano de carreira. É o mínimo que um(a) docente tem que fazer ao prejudicar de forma contundente e direta estudantes de baixa renda!

Contextualizando, a ditadura da maioria, que pode não ser rica mas não está passando nenhuma necessidade no período de greve da UnB, vai dizer que as aulas devem continuar. Afinal, 6% não podem prejudicar 94%. É mais ou menos o sentimento de desdém ou indiferença que se tem com cadeirantes, pessoas com baixa ou nenhuma visão, audição, não-falantes de português (e em breve de inglês) etc. Portanto, certamente nenhum(a) docente se recusaria a assinar um documento repassando as vantagens advindas da greve para a FUB, para que pudesse investir em atividades de extensão, aquisição de equipamentos de pesquisa ou material de apoio pedagógico, compra de ônibus para saídas de campo etc. Certamente seria um dinheiro muito melhor investido do que se entrasse de forma individual no bolso de um fura-greve. No campus de Planaltina, que tem 49% de estudantes nos grupos 1 ou 2, já é um pouco mais difícil de se manifestar contra a greve. Felizmente, no Conselho de Entidades de Base (CEB) que ocorreu hoje, 29 de maio, 24 centros acadêmicos optaram por entrar em greve estudantil. Outros 22 foram contra e 4 se abstiveram. Seria uma luz no fim do túnel? Será que mais estudantes começaram a pensar na minoria oprimida? Isso o tempo irá dizer.

Segue abaixo uma proposta para o comando de greve estudantil: passar em aula e ler o seguinte documento em que o(a) professor(a) se propõe a devolver qualquer vantagem que venha a receber ao final da greve. Como será que eles reagiriam à isso?

Não deixe de baixar o TERMO DE REPASSE DE RECURSOS POR INCAPACIDADE POLÍTICA, disponível clicando aqui!

TERMO DE REPASSE DE RECURSOS POR INCAPACIDADE POLÍTICA

Eu, ______________________________________________________________

_______________________________________________________ matrícula ___________, perante a situação de greve na Universidade de Brasília e sabendo que a continuação de minhas atividades prejudicam principalmente estudantes dos grupos 1 e 2, socioeconomicamente vulneráveis, além de ser uma conduta não construtiva com colegas de profissão que estão com suas atividades paralisadas, optei por não fazer greve.

Em vista disso, por saber que os dividendos da greve sempre são estendidos à todos(as) docentes, mesmo aos que não participaram da mobilização, abdico de qualquer vantagem advinda desse movimento, seja salarial, reestruturação do plano de carreira, melhores condições de trabalho e/ou outras omissas. Informo também que gostaria que o aumento salarial proveniente da greve e que iria indevidamente para a minha conta, que fosse depositado na FUB para suprir carências no orçamento do ensino, pesquisa e extensão, ao passo que não seria ético receber verba proveniente de uma conquista que não ajudei em nada a conseguir.

Brasília, _______ de ____________________________ de 2012.

Sobre ayanrafael

Pedagogo, Assistente Social e Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Trabalhou como técnico-administrativo na Universidade de Brasília, como Professor de Atividades da SEEDF (Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal) e atualmente é Especialista Socioeducativo - Pedagogo na Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, lotado no Centro Integrado 18 de Maio.
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2 respostas para A relação da greve com a assistência estudantil na UnB: um debate classista e uma proposta para docentes fura-greve!

  1. A HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONTA disse:

    E O QUE TIROU DIPLOMA POR PROCESSOS SAFADOS ATÉ FINGI QUE NEM É COM ELE

    Quando custa uma universidade pública? Cerca de 15 bilhões. R$ 5 bi é com infraestrutura:tudo da aluno carente precisa (alojamento, comida livro e bolsa), residencial para docente e funcionários, biblioteca de qualidade,etc. Os outros R$ 10 bi é para ser aplicado na rede básica para produzir o que universidade prescinde para ter o mínimo de qualidade, e disso nem preciso dizer que a maior parte é para pagar salário docente.

    As nossas universidades públicas começaram com JK, o qual fundou 10. Quanto gastou por isso? PRATICAMENTE NADA. O que fez foi juntar alguns núcleos cursos isolados num pacote e se deu o nome de universidade. E na maioria dos casos, designou terreno conseguido por doação (coisa que até turma de construtora entrou alegremente) para ser o campus. Obviamente todos os terrenos ¨doados¨ exigiram gastos fabulosos só com fundações, como a história mostra. E enquanto não, continuariam funcionando nos mesmos prédios de sempre e em alguns casos em espaço cedido da rede pública. E tudo SEM GASTAR UM CENTAVO A MAIS COM REDE PÚBLICA DE ENSINO BÁSICO.

    Por que a classe docente superior deixou tudo isso acontecer sem um suspiro de protesto? Em tais criação de universidade tinha um presente maravilhosos para todos: os cargos administrativos seriam ocupados por esses ganhando extra. Porquanto, deixaria sala de aula, espaço lúgubre, mal cheiroso e cheio de aluno com as piores deficiências, sem perder um centavo e as benesses da carreira docente, mais extras com possibilidade de ir até ao infinito. Fora os ganhos políticos dos mais importantes.

    Veio a ditadura e precisava atuar nesse quadro por haver um inimigo feroz: estudante de nível superior. Era preciso levantar bilhões para fazer os campi universitários. E nem isso queriam, as construtoras com sempre estavam na jogada, mas que fosse cidade universitária: Tinha que ser coisa tão inóspita para pobre que mesmo que fosse só para ir uma aula para seguinte precisaria ter carro.

    A turma delfiniana entrou em campo para conseguir fábulas via empréstimos internacionais MEC/USAID. Como há certas coisas que provocam vergonhas mesmo em facínoras, precisar explicar como gastar bilhões com curso superior sem ensino básico, educação para o povo. Eis que entra em cena o MOBRAL. E ficou assim: dos bilhões vindo se gasta centavos com educação para o pouco e os demais com construtoras para fazer cidades universitárias.

    Construída essas cidades universitárias, surgiram uma enormidade de problemas e um era gritantes: como conseguir docente para tanto, havendo dois subtraendo: mais cargos administrativos e.. alguns indesejáveis que precisavam perseguir e demitir. A grosso modo ¨resolveram¨ isso delegando ao general que cuidava da universidade pública (toda essa tinha gabinete comando por gente do serviço de informação, sendo reitor apenas boneco de figuração) . Esse passou nomear como docente, salvo raras exceções, todo tipo de escória social e com mais gosto quanto mais escória fosse (O CONCURSO ERA FAJUTICE, SALVO EXCEÇÕES E MESMOS ESSAS O GENERAL TENTAVA POR TODOS OS MEIOS EVITÁ-LA ). Precisava até que o sujeito se fingisse de esquerda para fazer relato e denunciar ao general e não só aluno, como todo e qualquer. Alguns aproveitaram, já que desejava que general nomeasse esposa/amante, parente, amigo, etc para vaga, para delatar docente. E alguns casos, para o sujeito tomar fugir, bastava esse colocar bilhetinho por baixo da porta do gabinete do docente, dizendo-se amigo anônimo e que estava sabendo que o general desconfiava que esse era comunista.

    Essas escórias sociais transformaram a funcionalidade da universidade coisa pior do que antro formado pelas piores formas de degeneração social, porquanto, tudo foi implementado via o processo de diplomação. Aos que compactuam toda facilidade para tirar tudo quanto for tipo de diploma e aos que percebem a menor inconveniência, as perseguições das mais abjetas. Com isso, fizeram com que na ponta da universidade pública o mais provável sair era um corrupto voraz, um sujeito que não se sustenta em pé um segundo se dependesse do que sabia, mas apenas por ter diploma de nível superior de uma universidade pública. Tudo isso para cumprir a máxima que os golpistas sempre fizeram questão de propalar quando diziam – ¨ Estão achando ruim ditadura @¨%$@(#!!! Esperem quando for civil ¨

    Veio o tempo dito de redemocratização. A primeira providência foi tocarem fogo em todos os arquivos do general, alguns foram pelo fato do general cumprir o prometido, e com um prêmio: EFETIVAÇÃO DE TODOS SEM CONCURSO. E um dado: a quantidade de cargos administrativos estava estagnada. Para tanto, criaram a figura dos campi para o interior, na imensa maioria nada além de escola pública cedida pelos municípios. Esse precisava ter curso superior para diplomar docente que prestasse e tendo sem prestar, de onde viria aluno para fazer curso superior? Como o que interessa mesmo era o cargos administrativos, isso era questão para safado colocar.

    O governo Lula fez tal qual JK, com alguns adendos próprios e com algumas atualizações exigidas pelo tempo e nada mais. E essas continuaram atuando, salvo pequenas exceções, tal como faziam tais imundices sociais que entraram como docente nos tempos da ditadura , só que agora com alguns desses ainda e outros imundos que esses mesmos produziram.

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